Bruno e Juliano Mendes, sócios da Pomerode Alimentos, formados em Administração de Empresas e certificados pelo Cheesemaking Certificate Program do Vermont Institute for Artisan Cheese. A Pomerode produz desde uma linha de queijos fundidos até queijos de mofo branco, além de um semiduro chamado Vale do Texto sob a marca Vermont Queijos.
A transformação de um mercado é sempre fruto de muitas ações diferentes, motivações variadas e iniciativas corajosas. Temos observado mudanças importantes, por exemplo, no mercado de cervejas, em que o consumo migra, dia após dia, para as cervejas especiais. Sejam elas tradicionais ou inovadoras
e produzidas por grandes ou pequenas cervejarias, todas têm em comum uma característica básica: maior intensidade de sabor.
O crescente interesse do consumidor por esse tipo de cerveja parte, evidentemente, da disponibilidade desse tipo de produto no mercado. A partir daí, entra em cena a educação desse consumidor, para que ele compreenda e valorize esses produtos e seus produtores. É exatamente o que temos observado no mercado de queijos. Há muito dominado por produtos de pouco sabor e sem personalidade, vê-se uma profunda mudança, com a oferta e valorização crescente de produtos mais saborosos, autênticos e criativos.
A educação do consumidor também se torna peça chave. E é aí que uma revista como essa ganha importância enorme nesse processo. Uma revista capaz de conversar com todos os participantes, desde os fabricantes, passando pelo comerciante e terminando em quem mais importa, o consumidor. Por isso, deve ser motivo de grande celebração que uma publicação assim nasça e nos ajude a maturar, usando um jargão queijeiro, um consumidor mais bem informado, mais curioso e exigente.
E muito orgulhosos que estamos de fazer parte desse time de colunistas, vamos trazer ao leitor situações do dia a dia de quem tem na produção de queijos não apenas sua profissão, mas sua grande paixão. De cervejeiros, fundadores da Eisenbahn, nos tornamos queijeiros, responsáveis pela marca Vermont, de Pomerode, em Santa Catarina. Estudamos e nos preparamos para o ofício, mas é da prática que estamos recebendo os maiores aprendizados. Se passaram apenas três anos, mas a curta experiência acumulada já rende boas histórias para contar. Histórias que contaremos aqui, na coluna Vida de Queijeiro.
E, para começar, vamos tratar de pandemia e aumento no preço do leite. Como se não bastasse um novo vírus que nos apresenta desafios enormes nas conduções dos negócios, ganhamos de presente uma estiagem rigorosa que reduziu drasticamente a produção de leite. Redução que se traduziu em aumentos nunca imaginados por nós, meros iniciantes nesse belo mundo queijeiro. Só para materializar os fatos, estamos falando de um aumento de 60% desde o início da pandemia. A velha lei da oferta e demanda.
Queijo é, basicamente, leite desidratado. Retira-se água do leite até que ele ganhe corpo e estrutura firme. Dessa forma, um aumento de 60% no preço da matéria prima que praticamente compõe inteiramente o produto final tem impacto enorme no seu custo. A solução mais óbvia seria o repasse desse aumento, algo bastante delicado e, diríamos, praticamente impossível nesses tempos tão conturbados. E assim vamos aprendendo, pela primeira vez, a lidar com um desafio tão grande, mas bem particular desse ramo. Outros
desafios vieram e foram superados. Seguimos em frente e cientes de que esse sobe e desce cheio de emoções faz parte da vida empreendedora.
Sucesso e vida longa à Revista do Queijo!